Soul

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Sampa caótica, SP, Brazil
Um equilíbrio dinâmico entre o prazer e a dor.

sábado, 23 de julho de 2011

LINDA ROSA

"Perdeste decerto o gosto pela música temporariamente, como de resto por muitas outras coisas. A tua cabeça está cheia de cuidados por um mundo cuja história se distorceu... Todos os que me escrevem suspiram e se queixam. Isso é demasiado estúpido. Não compreendem que o fracasso geral é demasiado grande para nos lamentarmos?... Posso aborrecer-me se a Mimi fica doente ou se alguma coisa te acontecer. Mas se todo o mundo se desarticula, então procuro compreender o que aconteceu e porque aconteceu, e se cumpri o meu dever de novo me sinto aliviada. E recupero novamente tudo aquilo que me agrada: a música e a arte e as nuvens, a observação das plantas na Primavera, os bons livros, a Mimi, tu e muitas outras coisas... Sou rica e penso que continuarei a sê-lo para sempre. Abandonarmo-nos completamente às calamidades do momento é intolerável e incompreensível. Pensa com que serenidade Goethe observava as coisas. E recorda-te daquilo por que passou: a Grande Revolução Francesa - que vista de perto deve ter parecido nada mais do que uma farça sangrenta e essencialmente inútil. E depois, entre 1793 e 1815, uma cadeia initerrupta de guerras até o mundo se parecer novamente com uma casa de malucos. E com que calma e serenidade intelectual continuou seus estudos sobre a metamorfose das plantas, a cromatologia e mil e uma outras coisas! Não espero que escrevas poesia como Goethe, mas podes adotar sua atitude para com a vida, a sua universalidade de interesses, e a sua harmonia interior - ou pelo menos podes tentar atingi-la. E se disseres: mas Goethe não era politicamente ativo, então responderei que um lutador político deve ser capaz de se colocar acima das coisas com urgência ainda maior, ou afundar-se-á até as orelhas nas trivialidades da vida de todos os dias."

O texto se trata de um trecho de uma carta escrita na prisão por Rosa Luxemburg dirigida à Luise Kautsky, em 1917.
 

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