Sofrer....
6 horas para ser atendida, o plantão dos médicos era de 12 horas, 2 clínicos e 2 pediatras, se não me engano 4 auxiliares de enfermagem, 1 enfermeiro padrão; 2 funcionários faziam as fichas e mais 2 organizavam as chamadas e encaminhamentos. Na minha frente eram 76 adultos, mais as fichas de atendimento preferencial que não sei dizer quantas eram.
Todos exaustos, no limite da razão... os médicos após sequências seguidas de atendimentos, saiam do consultório feito zumbis. Enfim, me sentei um pouco em frente a mesa que encaminhava as fichas, por vezes vi um dos pediatras abaixando a cabeça e apoiando-a entre as mãos totalmente curvado, respirava fundo esperando mais 20 fichas, recebendo-as, dava um sorriso amarelo tentando resgatar vigor para continuar os atendimentos.
Funcionários da saúde trabalhando como operários e nos atendendo feito coisas. Resultado de administração privada em hospital público, transformado o hospital em empresa com lógica de produção. Exemplo claro da politica neoliberal que desvia as responsabilidades do governo.
Desmaios, febres, gripes, conjutivites, sabe-se lá mais o que...
Filhos da nossa doença.
Alguns jovens esperavam atendimento médico, jovens com filhos, jovens com pais, jovens sozinhos como eu.
E...
...uma jovem achando muita a demora, foi chingar uma atendente delicada com olheiras e cara de cansada, pegou pesado, mostrou toda sua indignação, bom seria se chingamento e revolta fosse direcionado para a pessoa/pessoas, organizações, e responsáveis por aquele caos. Acharia maravilhoso se essa revolta fosse tansmissível como os vírus que por ali "circulavam". E que esse vírus chamado revolta fosse mútavel e que ele pudesse se tornar em discurso organizado, em dialética crítica e ação.
Foi então que o enfermeiro disse que minhas veias estão desaparecendo, disse que da próxima vez eu deveria pedir "intramuscular" (é isso Elis?) para poupar e reserva-las para possíveis urgências no futuro, me furou algumas vezes, minha veia estorou, senti dor, então chorei...
Eu chorei, mas não foi só a dor física, eu chorei pelas nossas horas perdidas, sofridas, contaminadas, entristecidas... eu chorei pela impotência, eu chorei pela doença, pelo caos, chorei pela nossa morte em vida, chorei por que eu não sei o que fazer, e essa miséria em que vive o meu povo me parece uma situação eterna, e de certa forma é, pq a nossa eternidade é nosso tempo vivido, e quantas crianças mais precisam sofrer, quantas dores, quantos absurdos??? Isso precisa mudar para ontém, são as nossas vidas!!! Não pode ser um "trabalho de formiguinha" como ouvi semana passada, o melhor do nosso presente não pode ser o futuro!
Eu chorei.... chorei por tudo.
"Veloso o sol não é tao bonito pra quem vem
do norte e vai viver na rua,
A noite fria me ensinou a amar mais o meu dia
e pela dor eu descobri o poder da alegria,
e a certeza de que tenho coisas novas,
coisas novas pra dizer,
a minha história é ... talvez
é talvez igual a tua, jovem que desceu do norte
que no sul viveu na rua,
e que ficou desnorteado, como é comum no seu tempo,
e que ficou desapontado, como é comum no seu tempo
e que ficou apaixonado e violento como, como você
Eu sou como você. Eu sou como você. Eu sou como você
que me ouve agora. Eu sou como você. Como Você. "
do norte e vai viver na rua,
A noite fria me ensinou a amar mais o meu dia
e pela dor eu descobri o poder da alegria,
e a certeza de que tenho coisas novas,
coisas novas pra dizer,
a minha história é ... talvez
é talvez igual a tua, jovem que desceu do norte
que no sul viveu na rua,
e que ficou desnorteado, como é comum no seu tempo,
e que ficou desapontado, como é comum no seu tempo
e que ficou apaixonado e violento como, como você
Eu sou como você. Eu sou como você. Eu sou como você
que me ouve agora. Eu sou como você. Como Você. "