Soul

Minha foto
Sampa caótica, SP, Brazil
Um equilíbrio dinâmico entre o prazer e a dor.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

...

Engraçado...
Eu digo:
_Fico triste, não sei o nome dos pássaros_
Aqui estão quase ao alcance das mãos
Posso sentir-lhes a alegria e até tocá-los
Me maravilhar com suas cores e canção
E a agradável sensação que me provoca
Mas, ao amanhecer, murcham em minhas lembranças
Passa o tempo, são borrões risonhos.

Um dia, um dia qualquer...
Eles aparecem de outro jeito
Leio Saíra, Sabiá, Canário, Tiê, Pardal...
Mas por mais que soletre,
A imagem não reaparece
Então às imagino do meu jeito:
Pequeninos, alegres e coloridos
Atravessam a mata, os morros, os mares
Mas não dizem seu nome!

Eles voam com as asas do meu pensamento
Exaltando as cores, imaginar criativo...
Perto do sentir, muito longe do saber.
Em uma das manhãs, é o que peço
Terão um nome!
Talvez "Pasquatela, Zebertelha ou Pedregulha"
Como sugere Furnari
E a Saíra de um tempo
Ficará entre as revoadas de outra estação.

E na renovação da vida
Deixamos para trás folhas, águas, sabores
Paisagens de outrora, encantamentos de outra vida
E os olhos tornam-se preenchidos por outra luz
E os dedos tocam outro horizonte
E a boca outro gosto
O coração outras penas.
Que pena.
Parti...

 Cyn

Teatro


"Veio de manhã molhar os pés na primeira onda
Abriu os braços devagar e se entregou ao vento
O sol veio avisar que de noite ele seria a lua
Pra poder iluminar Ana, o céu e o mar"



Ele


Ele



Já começa a beijar o meu pescoço
com sua boca meio gelada meio doce,
já começa a abrir-me seus braços
como se meu namorado fosse,
já começa a beijar a minha mão,
a morder-me devagar os dedos,
já começa a afugentar-me os medos
e dar cetim de pijama aos meus segredos.
Todo ano é assim:
vem ele com seus cajás, suas oferendas, suas quaresmeiras,
vem ele disposto a quebrar meus galhos
e a varrer minhas folhas secas.
Já começa a soprar minha nuca
com sua temperatura de macho,
já começa a acender meu facho
e dar frescor às minhas clareiras.
Já vem ele chegando com sua luz sem fronteiras,
seu discurso sedutor de renovação,
suas palavras coloridas,
e eu estou na sua mão.
Todo ano é assim:
mancomunado com o vento, seu moleque de recados,
esse meu amante sedento alvoroça-me os cabelos,
levanta-me a saia, beija meus pés,
lábios frios e língua quente,
calça minhas meias delicadamente
e muda a seu gosto a moda de minhas gavetas!
É ele agora o dono de meus cadernos, meu verso, minha tela,
meu jogo e minhas varetas.
Parece Deus, posto que está no céu, na terra,
nas inúmeras paisagens,
na nitidez dos dias, no arcabouço da poesia,
dentro e fora dos meus vestidos,
na minha cama, nos meus sentidos.
Todo ano é assim:
já começa a me amar esse atrevido,
meu charmoso cavalheiro, o belo Outono,
meu preferido.


Elisa Lucinda